Resenha: O que é lugar de fala?

Escrito por
Lorrane Fortunato
Livro "Lugar de fala" de Djamila Ribeiro.

Título: O que é lugar de fala?
Autor: Djamila Ribeiro
Editora: Letramento
Número de páginas: 96
Skoob: Adicione

Sinopse:
Muito tem se falado ultimamente sobre o conceito de lugar de fala e muitas polêmicas acerca do tema têm surgido. Fazendo o questionamento de quem tem direito à voz numa sociedade que tem como norma a branquitude, masculinidade e heterossexualidade, o conceito se faz importante para desestabilizar as normas vigentes e trazer a importância de se pensar no rompimento de uma voz única com o objetivo de propiciar uma multiplicidade de vozes.

Partindo de obras de feministas negras como Patricia Hill Collins, Grada Kilomba, Lélia Gonzalez, Luiza Bairros, Sueli Carneiro, o livro aborda, pela perspectiva do feminismo negro, a urgência pela quebra dos silêncios instituídos explicando didaticamente o que é conceito ao mesmo tempo em que traz ao conhecimento do público produções intelectuais de mulheres negras ao longo da história.
 
Em Aprendendo com o outsider within: a significação sociológica do pensamento feminista negro, Patricia Hill Collins fala da importância das mulheres negras fazerem u m uso criativo do lugar de marginalidade que ocupam na sociedade a fim de desenvolverem teorias e pensamentos que reflitam diferentes olhares e perspectivas. Pensar outros lugares de fala passa pela importância de se trazer outras perspectivas que rompam com a história única.
“Eu não estou indo embora.
Vou ficar aqui e resistir ao fogo.”
Sojourner Truth

Ultimamente tenho tido muito interesse sobre ler sobre feminismo negro, quando se lê muito sobre esse assunto Djamila Ribeiro acaba se tornando uma grande referência. Assim, foi com muita empolgação que me dediquei a leitura de “O que é lugar de fala?” e não me decepcionei em nenhum momento. 

“Essa insistência em não se perceberem como marcados, em discutir como as identidades foram forjadas no seio de sociedades coloniais, faz com que as pessoas brancas, por exemplo, ainda insistam no argumento de que somente elas pensam na coletividade; que pessoas negras, ao reivindicarem suas existências e modos de fazer políticos e intelectuais, sejam vistas como separatistas ou pensando somente nelas mesmas. Ao persistirem na ideia de que são universais e falam por todos, insistem em falarem pelos outros, quando, estão falando de si ao se julgarem universais.” 

Esse é um livro que apesar de pequeno em número de páginas é grande e abrangente em informações e conhecimentos que traz para o leitor. 

O livro de Djamila Ribeiro é dividido em partes, traz muitas citações e menciona várias feministas que precisam ter suas vidas e obras conhecidas e estudadas. 

“Por mais que pessoas pertencentes a grupos privilegiados sejam conscientes e combatam arduamente as opressões, elas não deixarão de ser beneficiadas, estruturalmente falando, pelas opressões que infligem a outros grupos.”

“O que é lugar de fala?” é uma leitura para ser realizada aos poucos, é aquele livro em que o leitor destaca trechos e reflete sobre algumas informações.

Como dito, é uma leitura que proporciona conhecimento e de uma forma bem interessante, sem se tornar chata em nenhum momento. Muito pelo contrário, a cada parte só vai ficando mais interessante!

“Há pessoas que dizem que o importante é a causa, ou uma possível “voz de ninguém” como se não fôssemos corporificados, marcados e deslegitimados pela norma colonizadora. Mas, comumente, só fala na voz de ninguém quem sempre teve voz e nunca precisou reivindicar sua humanidade.” 

O livro aborda o tema proposto de uma forma didática e bem simples de entender. A forma como esse livro foi escrito é maravilhosa, tudo é bem explicado, não tem nada faltando, sem dúvidas, é uma leitura completa.

A autora não poupou notas, citações e referências, que só mostram o cuidado e atenção que teve na pesquisa e elaboração desse escrito. 

Por fim, recomendo demais a leitura de “O que é lugar de fala?”, é uma leitura extremamente necessária. 

“Por que eu escrevo?

Por que tenho que

Porque minha voz

em todas suas dialéticas

foi silenciada por muito tempo.”

Jacob Sam-La Rose


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