Literatura tem cor?

Escrito por
Sérgio Motta
Imagem de diversos livros entrelaçados.

A resposta rápida — e correta — é sim. E se você diz que não escolhe um livro pela cor do autor, é porque você escolhe. Isso não é uma posição ideológica ; é estatística.

A pesquisa “Personagens do romance brasileiro contemporâneo”, da professora da UnB, Regina Dalcastagnè, mostra que o perfil do autor brasileiro é o mesmo pelo menos desde 1965: branco.

Gráfico que mostra a cor dos autores da literatura das principais editoras do país, predominantemente brancos.

Nesta pesquisa, foram avaliados 131 livros de 86 autores lançados entre 1965 e 1979 (sendo 80 de autores brancos e 6 de não-brancos). Já entra 2005 e 2014, a soma é de 303 livros de 197 autores. O que mais chama atenção é que, embora tenha mais que dobrado o número de autores no corpo de pesquisa, o número de autores não-brancos, já irrisório, diminuiu. Passaram a ser apenas cinco autores não-brancos para 192 brancos.

Ou seja, ainda que o mercado literário nacional esteja em constante avanço e cada vez mais pessoas tem a oportunidade de escrever e publicar suas histórias, há muitas delas que não estão sendo contadas.

(In)visibilidade brasileira

“O fato da gente sobreviver é histórico e é clássico, porque clássico é o que sobrevive ao tempo.”

Mesas como “(In)visibilidade brasileira”, que ocorreu durante a FLIPOP — o festival da literatura pop focada em jovens leitores — se fazem necessárias. Participei desse debate junto à Julie Dorrico e Leo Hwan, com mediação de Mayra Sigwalt para falar sobre essas questões. Apontamos diversas problemáticas, barreiras e estruturas a serem rompidas para que mudemos esse cenário e o mercado literário possa ser inclusivo e uma possibilidade para todos. E a melhor forma é de fazê-lo é conquistar nossos espaços enquanto autores, leitores, profissionais do livros e, principalmente, seres humanos.

É por isso que o Resistência Afroliterária existe. Para ajudar a conquistar esse espaço. Para mostrar que escritores negros tem histórias incríveis e plurais para contar. Para lembrar que as páginas são brancas, mas as letras são pretas.

Deixo, por fim, de recomendação, algumas leituras extras para essa discussão:
Escritores negros são fodas! (Não porque são negros, mas porque precisam ser)
Representação e representatividade: entenda a diferença
Na literatura, o preto não é básico; é clássico
#LeituraPreta: lendo autores negros o ano todo
A importância de vivermos nossos afrofuturos
Eu quero respeito mas também quero flores!


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