“Nós” é palavra de ordem em tempos de resistência

Escrito por
Sérgio Motta
Foto autoral da capa do livro "Nós: uma antologia da literatura indígena", com organização de Marcelo Negro

“Nós” é uma palavra de apenas três letras, que todos conhecemos, mas poucos dão sua devida importância. Parafraseando um tweet viralizado, o ano começou com “ninguém solta a mão de ninguém” e terminou com “eles que lutem”.

Uma resistência segregada que, por definição se torna vazia. Pois, em tempos de resistência, “nós” é a palavra de ordem. Primeira pessoa do plural. São nesses tempos que devemos entender primeiro o que é pessoa e o que é plural.

Foto autoral de uma das ilustrações do livro "Nós: uma antologia da literatura indígena", com organização de Marcelo Negro

“Yacy-May veio ao mundo quando os pássaros noturnos cantavam na escuridão da floresta. Bela era a noite, calmo estava o rio Andirá, inspirando poesia.”

Por isso, lemos “Nós: uma antologia da literatura indígena”. Um livro necessário — assim como a literatura indígena no geral —, por perpetuar nos livros, conhecimentos passados e adquiridos, modos de compreender a vida e a natureza, de utilizar e significar palavras e atos, que sempre foram de tradição oral e nos permitir refletir nossa relação e presença no mundo.

Como diz Marcelo Negro, organizador e ilustrador da antologia, “A chamada literatura indígena carrega esse desejo profundo de reatar e fortalecer os laços entre todos nós”.

Tudo que nóiz tem é nóiz

Foto autoral da capa do livro "Nós: uma antologia da literatura indígena", com organização de Marcelo Negro

Esta coletânea reúne doze autores indígenas de dez povos diferentes que nos presenteiam com seus contos e tradições, que são diversas nas nuances, mas também semelhantes na cosmovisão, na consciência de ser humano e de sua relação com o universo.

“O jeito de viver daquela época ajudava o equilíbrio da vida. Os homens não interferiam no curso da natureza. Não desmatavam, não poluíam nem faziam guerras com outras gentes por qualquer motivo banal.”

Em um mundo ideal, “Nós” deveria ser “nosso”. Deveria ser o livro mais brasileiro possível (e não no mal sentido da expressão). O tipo de livro que deveria ser obrigatório nas escolas e estudado à esmo em aulas de literatura nacional para que possamos compreender o que somos, de onde viemos e o que deveríamos ser enquanto brasileiros, enquanto humanos. Um livro que, ao lê-lo, senti falta de não estar presente na minha formação base. E que, ainda assim, sinto que nunca é tarde para lê-lo. E sempre será necessário que leiamos e que nos conectemos com esta literatura, que compreendamos estas linguagens e visões. Afinal, como canta Emicida:

Cale o cansaço
Refaça o laço
Ofereça um abraço quente
A música é só uma semente
Um sorriso ainda é a única língua que todos entendem

“Nós” é mais que uma coleção de histórias. É um livro que faz História.

Ficha Técnica:

Título: Nós: uma antologia de literatura indígena
Organização: Maurício Negro
Editora: Companhia das Letrinhas
Número de páginas: 464
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