#PerfilAfroliterario: Curiosidades sobre Machado de Assis

Semana passada, pedimos no Twitter do Resistência Afroliterária que recomendassem autores negros que todos deveriam ler. A repercussão foi ótima, mostrando o quanto autores negros inspiram e nos marcam. Baseado nisso, resolvemos criar o #PerfilAfroliterário, uma série que vai falar de curiosidades de autores negros, além de indicar algumas obras.
Indique um autor negro que todos deveriam ler.
— Resistência Afroliterária (@afroliteraria) August 28, 2019
(Caso você não tenha visto ou comentado ainda, indique lá seu ator negro favorito!)
E um dos nomes mais comentados foi, obviamente, Machado de Assis. Afinal, é o maior escritor brasileiro de todos os tempos. E nada mais justo do que começar a série com ele. Então, lá vai algumas curiosidades sobre Machado de Assis:
Joaquim Maria Machado de Assis era negro. A essa altura, todo mundo já sabe. Se você ainda não sabia que Machado era negro (ou se chamava Joaquim Maria), você foi agraciado com curiosidades extras!
(Fonte: G1)
Seus avós paternos eram negros escravizados que conseguiram sua alforria. O que motivou o autor a abordar a postura abolicionista e discutir os malefícios da escravidão em diversas obras, como no conto “O caso da vara”, na crônica “Bons dias!”, publicada uma semana após a abolição (ironizando a falsa liberdade assinada por Isabel), na obra-prima “Memórias póstumas de Brás Cubas” e até mesmo no seu último romance, “Memorial de Aires”, publicado quase vinte anos depois da Lei Áurea.
Nem só de “traiu ou não” (não traiu!) vive a obra de Machado. Além dos romances mais famosos e estudados, “Dom Casmurro”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”, o escritor publicou mais sete romances. Inclusive, alguns compartilham o mesmo universo. O narrador de “Memorial de Aires”, por exemplo, aparece em “Esaú e Jacó”, além de outros textos. Há quem diga que o Conselheiro Aires é uma persona do próprio Machado.
Além dos dez romances, Machado de Assis escreveu também 216 contos (recomendamos especialmente “40 contos escolhidos” e “Mulheres de Machado“), dez peças de teatro, cinco coletâneas de poemas e sonetos e mais de 600 crônicas!
Além de tudo isso, Machado traduzia. Talvez a sua tradução mais conhecida e inusitada seja do poema de terror “O Corvo”, de Edgar Allan Poe. Obviamente, uma das motivações de Machado era a qualidade do poema, mas o escritor tinha um pezinho no fantástico.
Além de ajudar a trazer e divulgar um dos maiores expoentes da ficção especulativa no Brasil, Machado publicou os contos Rui de Leão e O Imortal, sobre um homem que descobre-se imortal após beber uma certa líquido dado pelo sogro indígena.
A Plutão Livros republicou os contos em conjunto em 2018, numa bela edição digital chamada Sobre a imortalidade de Rui de Leão. Recomendamos em especial para quem ficou curioso com essa relação de Machado com a ficção científica, porque o prefácio do livro é um artigo justamente sobre isso.
Sem falar em Memórias póstumas de Brás Cubas! Um zumbi escrevendo sua autobiografia! Quer algo mais fantástico que isso?!
Não é de hoje que vemos personalidades públicas migrando das artes para política, (mas digamos que… os critérios diminuíram). Já dizia Machado: “Que é a política senão obra de homens?”. Sempre muito estudioso e presente em pautas sociopolíticas, Machado foi condecorado por Dom Pedro II, recebendo a Ordem das Rosas e participou do Ministério da Agricultura. Anos depois, ainda foi diretor-geral da contabilidade do Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas.
Tente aí imaginar Machado de Assis sendo parte do governo do Brasil. Ai, ai… saudade dessa época que eu não vivi.