#PerfilAfroliterario: Curiosidades sobre Machado de Assis

Foto de Machado de Assis que mostra o autor sendo um homem negro.

Por Sérgio Motta

3 de setembro de 2019

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Semana passada, pedimos no Twitter do Resistência Afroliterária que recomendassem autores negros que todos deveriam ler. A repercussão foi ótima, mostrando o quanto autores negros inspiram e nos marcam. Baseado nisso, resolvemos criar o #PerfilAfroliterário, uma série que vai falar de curiosidades de autores negros, além de indicar algumas obras.

Indique um autor negro que todos deveriam ler.

— Resistência Afroliterária (@afroliteraria) August 28, 2019

(Caso você não tenha visto ou comentado ainda, indique lá seu ator negro favorito!)

E um dos nomes mais comentados foi, obviamente, Machado de Assis. Afinal, é o maior escritor brasileiro de todos os tempos. E nada mais justo do que começar a série com ele. Então, lá vai algumas curiosidades sobre Machado de Assis:

Machado de Assis era neto de escravizados

Joaquim Maria Machado de Assis era negro. A essa altura, todo mundo já sabe. Se você ainda não sabia que Machado era negro (ou se chamava Joaquim Maria), você foi agraciado com curiosidades extras!

Imagem de Machado de Assis mostrando que o escritor era negro.

(Fonte: G1)

Seus avós paternos eram negros escravizados que conseguiram sua alforria. O que motivou o autor a abordar a postura abolicionista e discutir os malefícios da escravidão em diversas obras, como no conto “O caso da vara”, na crônica “Bons dias!”, publicada uma semana após a abolição (ironizando a falsa liberdade assinada por Isabel), na obra-prima “Memórias póstumas de Brás Cubas” e até mesmo no seu último romance, “Memorial de Aires”, publicado quase vinte anos depois da Lei Áurea.

Machado tem uma produção de quase mil textos!

Nem só de “traiu ou não” (não traiu!) vive a obra de Machado. Além dos romances mais famosos e estudados, “Dom Casmurro”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”, o escritor publicou mais sete romances. Inclusive, alguns compartilham o mesmo universo. O narrador de “Memorial de Aires”, por exemplo, aparece em “Esaú e Jacó”, além de outros textos. Há quem diga que o Conselheiro Aires é uma persona do próprio Machado.

Além dos dez romances, Machado de Assis escreveu também 216 contos (recomendamos especialmente “40 contos escolhidos” e “Mulheres de Machado“), dez peças de teatro, cinco coletâneas de poemas e sonetos e mais de 600 crônicas!

Machado foi um dos precursores da ficção especulativa no Brasil

Além de tudo isso, Machado traduzia. Talvez a sua tradução mais conhecida e inusitada seja do poema de terror “O Corvo”, de Edgar Allan Poe. Obviamente, uma das motivações de Machado era a qualidade do poema, mas o escritor tinha um pezinho no fantástico. 

Capa de Sobre a Imortalidade de Rui de Leão, de Machado de Assis, publicado pela Plutão Livros.

Além de ajudar a trazer e divulgar um dos maiores expoentes da ficção especulativa no Brasil, Machado publicou os contos Rui de Leão e O Imortal, sobre um homem que descobre-se imortal após beber uma certa líquido dado pelo sogro indígena. 

A Plutão Livros republicou os contos em conjunto em 2018, numa bela edição digital chamada Sobre a imortalidade de Rui de Leão. Recomendamos em especial para quem ficou curioso com essa relação de Machado com a ficção científica, porque o prefácio do livro é um artigo justamente sobre isso.

Sem falar em Memórias póstumas de Brás Cubas! Um zumbi escrevendo sua autobiografia! Quer algo mais fantástico que isso?!

Romancista, contista, poeta, cronista, tradutor e… político?

Não é de hoje que vemos personalidades públicas migrando das artes para política, (mas digamos que… os critérios diminuíram). Já dizia Machado: “Que é a política senão obra de homens?”. Sempre muito estudioso e presente em pautas sociopolíticas, Machado foi condecorado por Dom Pedro II, recebendo a Ordem das Rosas e participou do Ministério da Agricultura. Anos depois, ainda foi diretor-geral da contabilidade do Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. 

Tente aí imaginar Machado de Assis sendo parte do governo do Brasil. Ai, ai… saudade dessa época que eu não vivi.

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