Vivências em palavras: Seis escritoras negras brasileiras pra você ler

A escritora Conceição Evaristo

Por Lorrane Fortunato

20 de junho de 2020

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Sojouner Truth questionou em 1851, ” eu não sou uma mulher?”. Sim, e muito mulher, diga-se. Mas aos olhos do patriotismo, civismo, nacionalismo, xenofobismo, machismo, racismo, não é. Como canta Ellen Oléria, “um abismo, chama outro abismo, chama outro abismo, chama outro abismo” e as vivências de mulheres negras são colocadas no mais baixo deles.

Segundo o IBGE, na pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça” (2018), mulheres brancas receberam em média 78,7% do rendimento de homens brancos em 2018. Mas mulheres negras receberam apenas 56,4%, em relação a mulheres brancas. Nas eleições de 2018, enquanto mais de 30% de mulheres foram eleitas deputadas estaduais, apenas 4,8% do total são de mulheres negras.

Já o “Atlas da Violência” (2019), mostra que o feminicídio contra mulher negra cresceu 60,5% entre 2007 e 2017. Contra mulheres não negras, 1,7%. As violências que caminham para o apagamento da mulher negra continuam na violência física, íntima, psicológica, estética, social, econômica, cultural.

E no final das contas, como diz Viola Davis, a real diferença entre as mulheres negras e todo o resto, é a oportunidade.

A oportunidade de ser lida, ser ouvida, ser entendida. Por isso, recomendamos aqui seis escritoras nacionais negras que falam sobre suas vivências que devemos ler para entender as questões sociorraciais que mulheres negras passam.

Carolina Maria de Jesus

Foto de Carolina Maria de Jesus

Foi uma das primeiras escritoras do Brasil e é considerada uma das mais importantes. Carolina é conhecida por seu livro primeiro livro. Com uma tiragem inicial de 10 mil exemplares, que se esgotou em uma semana, “Quarto de despejo: diário de uma favelada” já foi traduzido para mais de quatorze idiomas. Além dele, ela é também autora de mais oito obras, entre elas, “Casa de Alvenaria“, “Diário de Bitita” e “Meu sonho é escrever…“.

Conceição Evaristo

Foto de Conceição Evaristo

Uma das mais aclamadas escritoras do país, Conceição Evaristo é conhecida por seu livro “Olhos d’água“, vencedor do prêmio Jabuti de 2015 na categoria Contos e Crônicas. Além dele, a mineira também é autora de outros livros, tais como “Becos da memória“, “Histórias de leves enganos e parecenças“, “Insubmissas lágrimas de mulheres“, “Poemas de recordação“, “Ponciá Vivêncio“, entre outros. Suas obras foram traduzidas para os Estados Unidos e França.

Cidinha da Silva

Foto de Cidinha da Silva

Presidiu o Geledés – Instituto da Mulher Negra e fundou o Instituto Kuanza, que promove ações de educação, ações afirmativas e articulação comunitária para a população negra. É autora de dezoito livros, entre eles “Um Exu em Nova York“, “Sobre-viventes“, “Kuami” e “Parem de nos matar“.

Djamila Ribeiro

Foto de Djamila Ribeiro

Feminista negra, escritora e acadêmica brasileira, Djamila Ribeiro tornou-se conhecida no país por seu ativismo na internet. A mestre em filosofia, é autora de três livros: “Lugar de Fala“, “Quem tem medo do feminismo negro?” e “Pequeno Manual Antirracista“.

Eliana Alves Cruz

Foto de Eliane Alves Cruz

É conhecida pelo seu livro de estreia “Água de Barrela“, fruto de cinco anos de pesquisa sobre a história de sua família desde os tempos da escravidão. Em 2015, a escritora foi premiada com esse livro no concurso Oliveira Silveira, promovido pela Fundação Cultural Palmares. Ela também é autora do romance histórico e policial “O Crime do Cais de Valongo“.

Sueli Carneiro

Foto de Sueli Carneiro

Fundadora e atual diretora do Geledés — Instituto da Mulher Negra, ela é considerada uma das principais autoras do feminismo negro no Brasil. A doutora em filosofia é autora dos livros “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil” e “Escritos de uma vida“.

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