“Americanah” e outros livros de mulheres negras pra ler no #LeituraPreta de março

Escrito por
Lorrane Fortunato
Foto da escritora Chimamanda Ngozi Adichie, autora de "Americanah", livro do #LeituraPreta de março.

Para o #LeituraPreta deste mês, a proposta é: oportunidade. Oportunidade de tratar mulheres negras como escritoras, como mulheres, como humanos. Leia uma mulher negra. Leia duas. Leia várias. E garantimos: você não se arrependerá.

Em nossa sociedade, mulheres negras não são pessoas. Mulheres negras não tem direitos, oportunidades ou acessos. Soujoner Truth falou sobre isso no século XIX, Carolina Maria de Jesus no XX, bell hooks neste século. Conceição Evaristo, Harriet Tubman, Viola Davis e muitas outras também falaram, falam e falarão.

Cruzando pesquisas como da professora da UnB, Regina Delcastagnè, “Entre silêncios e estereótipos: relações raciais na literatura brasileira contemporânea” e #BlackSpecFic, da revista americana Fireside, dentre outras, vemos que, mesmo variando os gêneros literários e os recortes de pesquisa, o número de mulheres negras na literatura é menor que 1%. Ainda assim, nos últimos anos, as poucas autoras negras do mercado vem fazendo história, quebrando recordes de vendas e premiações, e chegando onde nenhum homem — ou mulher branca — jamais sonhou. Tudo o que elas precisaram foi de uma chance. Como Viola Davis falou em seu discurso do Emmy de 2015, “o que separa mulheres negras de todo os outros é a oportunidade”.

Por aqui, nós leremos “Americanah”, de Chimamanda Ngozi Adichie, um dos livros mais intensos da última década. Vencedor do National Book Critics Circle Award de 2013, e finalista do Women’s Prize de 2014, a obra mostra todas as facetas do racismo e das vivências negras, à partir da ótica de um casal nigeriano separado pelas circunstâncias da vida.

Livros para ler no #LeituraPreta de março: escritos e protagonizados por mulheres negras

“Quarto de despejo”, Carolina Maria de Jesus
Os registros deste diário começam em 15 de julho de 1955, no “Aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela.” e terminam em 1.º de janeiro de 1960, “Levantei às 5 horas e fui carregar água”, relatam o cotidiano triste e cruel da vida na favela. A linguagem simples, mas contundente, comove o leitor pelo realismo e pelo olhar sensível na hora de contar o que viu, viveu e sentiu nos anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com três filhos.

Imagem com a capa do livro "Eu, Tituba: bruxa negra de Salém" de Maryse Condé.

“Eu, Tituba: Bruxa negra de Salem”, Maryse Condé
Tituba, mulher negra, nascida em Barbados, no século XVII, renasce, três séculos depois neste livro. Uma das primeiras mulheres julgadas por praticar bruxaria nos tribunais de Salem, em 1692, Tituba fora escravizada e levada para a Nova Inglaterra pelo pastor Samuel Parris, que a denunciou. Mesmo protegida pelos espíritos, não pôde escapar das mentiras e acusações da histeria puritana daquela época. Leia nossa resenha de “Eu, Tituba”.

“A Quinta Estação”, N.K. Jemisin
O marido de Essun assassinou seu filho e sequestrou sua filha. A maior cidade da Quietude, nação em que Essun vive, é destruída por um homem. Uma fenda vermelha se abre no céu de Quietude, expelindo cinzas que transformam o dia em noite por séculos. Tudo isso, no mesmo dia! Essun tenta ser mãe, cidadã e humana em um mundo que nada disso lhe é permitido. Caso você já tenha lido “A quinta estação”, aproveite para ler as sequências “O portão do obelisco” e “O céu de pedra”, pois os três foram vencedores do Hugo Awards, tornando Jemisin a única pessoa na história a ganhar três Hugo’s de melhor romance seguidos.

“Reticências”, Solaine Chioro
Uma comédia romântica que acontece entre redes sociais e a vida offline contemporânea. Mas, no lugar dos atores padrões de Hollywood, a história gira em torno de dois personagens negros e gordos.

“O Ódio Que Você Semeia”, Angie Thomas
Este livro dispensa apresentações. Além de ganhar o prêmio William C. Morris por livro de estreia jovem-adulto, quebrou recordes de venda, figurando por mais de três anos na lista de mais vendidos do New York Times, sendo boa parte no topo da lista. Uma obra que mostra como a violência imposta pelo Estado contra a população negra incita o ódio nas próximas gerações e, cada vez mais, a população negra é obrigada a se acostumar ao cotidiano violento.

“Flores ao mar”, Lavínia Rocha, Lorrane Fortunato, Olívia Pilar e Solaine Chioro
Ah, a virada do ano: aquela época de renovar os votos e comemorar ao lado de quem a gente ama — ou passar por várias confusões ao lado da família, né? Este livro reúne quatro noveletas, cada uma na perspectiva de uma das irmãs Rios, Lírio, Tulipa, Violeta e Bromélia, em um cruzeiro de Réveillon. Uma coletânea divertida e apaixonante.

Capa do livro "Minha história", de Michelle Obama, publicada pela Companhia das Letras

“Minha história”, Michelle Obama
A única primeira-dama negra dos Estados Unidos nos conta a sua história. Michelle Obama que nos permite sonhar, pensar em um futuro melhor, como já contamos na nossa resenha de “Minha história”. A obra aclamada no mundo todo, ganhou o NAACP Image Award Outstanding Literary Work de melhor biografia em 2019, além do audiolivro, narrado pela própria Michelle, ter ganho o British Book Awards 2019 e um Grammy este ano.

“Quem teme a morte”, Nnedi Okorafor
Filha de uma mãe estuprada após o massacre de toda sua tribo, Onyesonwu é ensinada por um xamã e descobre que seu destino mágico é acabar com o genocídio de seu povo. Explore uma África pós-apocalíptica no romance ganhador do Prêmio World Fantasy de 2011. Fica também a recomendação para quem sabe ler em inglês: a trilogia de novelas Binti, também de Nnedi Okorafor, é vencedora do Hugo de 2016 e Nebula de 2015, os dois maiores prêmios do mundo nos gêneros de ficção científica e fantasia.

“Ponciá Vivêncio”, Conceição Evaristo
A história de Ponciá Vicêncio descreve os caminhos, as andanças, as marcas, os sonhos e os desencantos da protagonista. A autora traça a trajetória da personagem da infância à idade adulta, analisando seus afetos e desafetos e seu envolvimento com a família e os amigos.

“O caminho de casa”, Yaa Gyasi
Para quem gosta de romance histórico, este é o seu livro. Duas irmãs que não se conhecem, nascidas em povos rivais de Gana: Fanti e Ashanti. Ambas tiveram destinos bem diferentes à chegada dos colonos escravagistas ingleses: enquanto Esi é escravizada, Effia é comprada por para ser “esposa” de um nobre inglês. Acompanhamos, então, a história de sete gerações de cada uma dessas famílias e como tudo é bem diferente entre elas, exceto o racismo e os danos da supremacia branca euro-americana sobre a África. O livro ganhou o prêmio de melhor livro de estreia do National Book Critics John Leonard Award em 2016 e o American Book Award de 2017.

As promessas que você me fez”, de Lorrane Fortunato
Para complementar a sua renda, Ana aceitou trabalhar na festa de quatro anos de Davi no sábado. Porém, o que ela não imaginava é que, além do pagamento, teria muito mais a ganhar: um novo sentimento, um novo futuro, chamado Marcelo.

Livro Filhos de Sangue e Osso, por Tomi Adeyemi

Filhos de Sangue e Osso”, de Tomi Adeyemi
O livro é o primeiro de uma trilogia de fantasia baseada na cultura iorubá que está sendo adaptada para o cinema. No reino de Orïsha, a magia foi tomada dos majis. A sobrevivente Zélie busca trazê-la de volta e atacar a monarquia. A obra ganhou um Nebula em 2018 e um Hugo em 2019 como melhor livro jovem-adulto de fantasia. Leia a nossa resenha de “Filhos de sangue e osso”.

“A poeta X”, Elizabeth Acevedo
Este livro aborda dúvidas e experiências frequentes da adolescência — religião, relacionamento e autoaceitação —, apresentando essas questões por meio das lentes da herança afro-latina de Xiomara. A autora elevou o romance escrito em verso a uma ferramenta poderosa, fornecendo aos leitores uma narrativa incrivelmente viciante e deliciosamente rítmica. Além de trazer um ponto de vista único para aqueles que convivem com todo tipo de preconceito e procuram por si mesmos na literatura e na vida.

“O olho mais azul”, Toni Morrison
Considerado um dos livros mais impactantes de Toni Morrison, o primeiro romance da autora foi relançado no Brasil em 2019. Um livro que mostra a opressão que o preconceito racial pode causar na mais vulnerável das criaturas: uma menina negra.

“Nocturna”, Maya Motayne
No primeiro volume de uma trilogia de fantasia inspirada na cultura latina, uma ladra capaz de mudar de aparência e um príncipe herdeiro se unem para proteger o reino de uma magia perversa.

Pétala”, de Olívia Pilar
O que parecia ser apenas mais um encontro casual, em um café de uma esquina movimentada, acaba sendo uma conversa que pode mudar tudo. Bruna precisa organizar o que sente e pensa, ficando de frente à pessoa que mais causa sentimentos confusos em seu coração.

Resenha do livro "Kindred" de Octavia Butler, publicado pela editora Morro Branco.

“Kindred”, Octavia Butler
O que acontece quando uma mulher negra viaja no tempo até a época da escravidão? Dana passa por essa experiência… várias vezes. Quanto mais tempo passa no século XIX, numa Maryland pré-Guerra Civil – um lugar perigoso para uma mulher negra –, mais consciente Dana fica de que sua vida pode acabar antes mesmo de ter começado.
Leia nossa resenha de Kindred: Laços de sangue.

Formas Reais de Amar”, de Lavínia Rocha, Olívia Pilar, Solaine Chioro e Val Alves
Nesta coletânea, quatro escritoras contam as virtudes e desventuras de futuras herdeiras ao trono que, com muita sutileza, inteligência e solidariedade, foram criadas para serem grandes líderes. Mas será que é possível governar uma nação e ainda assim controlar o próprio coração? Continuando a valorizar a perspectiva “own voices”, em que o autor escreve sobre algum aspecto de sua vivência, “Formas Reais de Amar” dá espaço para protagonistas não brancas alcançarem a imaginação dos leitores e cativarem seus corações.

“A cor púrpura”, Alice Walker
O romance, narrado em cartas escritas pela protagonista, Celie, retrata de forma intensa o racismo e misoginia no sul dos Estados Unidos, retratando abusos sexuais e violências físicas e psicológicas. Para sobreviver, Celie tem que se manter calada e obediente. Expressa-se apenas pelas cartas — para Deus e sua irmã Nettie, uma missionária na África — nunca enviadas. A obra ganhou um National Book Award e um Pulitzer Prize em 1983.

Entre 3 Mundos”, de Lavínia Rocha
Há algumas décadas, o Brasil vivia intensos conflitos entre pessoas normais e pessoas com dons extraordinários. Visando a paz no país, as autoridades o dividiram em dois territórios – o do Norte e o do Sul – e assinaram um contrato proibindo a migração de uma região para a outra.
Alisa é de uma família do Norte, mas foi identificada como pertencente ao Sul e precisa esconder a verdade de ambos os mundos. Sua vida se transforma completamente com um grande acontecimento no colégio e, agora, ela se vê diante de um desafio envolvido pela descoberta do amor e da sua verdadeira identidade.

“Bem-Vindos ao Paraíso”, Nicole Dennis-Benn
Margot trabalha como prostituta próxima às paradisíacas praias da Jamaica para manter sua irmã mais nova na escola. Uma nova esperança surge quando um novo hotel começa a ser construído em sua vila: Margot espera conseguir independência financeira e ainda assumir seu amor proibido por outra mulher. O livro foi considerado o melhor livro de ficção lésbico do Lambda Literary Award de 2017, prêmio focado em literatura LGBTQ+.


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